sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Neuroeconomia



Todos que já tiveram a experiência de investir em ações, já conviveram com sentimentos como medo, ganância, apreensão, euforia e pânico.
Estes sentimentos são os maiores inimigos do operador de mercado de renda variável. São eles que nos fazem sair da nossa estratégia operacional e cometer erros irracionais.
Logo abaixo procurei sintetizar uma entrevista do Neuropsicólogo doutor Nelson S. Lima ao jornal semanário econômico, abordando as principais características de nossa tomada de decisão no que se refere principalmente a investimentos.
Acho este artigo muito interessante pra quem deseja começar a investir na bolsa de valores.

1. Na sua primeira pergunta ele responde sobre qual seria o peso da emoção na tomada de decisões de investimentos.

R: “A forma como a mente humana funciona não permite uma racionalidade pura na tomada de decisões, mesmo as mais complexas e exigentes. Qualquer decisão é o resultado de uma série de etapas mentais, da intervenção de numerosos fatores internos (biológicos) e externos (ambientais) e da influência das emoções e dos sentimentos. Ou seja, a mente de uma pessoa normal não consegue tomar decisões lógicas e inteligentes sem que o sistema límbico (emocional) esteja presente.”

2. Aqui ele responde sobre a divisão que faz a economia entre investidores conservadores, equilibrados e agressivos, levando em conta as variáveis de risco X retorno.

R: “Investir é, geralmente, uma atividade de risco na medida em que trabalha com cenários de futuro e, como tal, isso implica lidar com numerosos fatores imprecisos. O nível de risco aumenta quanto maior for o número de "atores" em jogo.
Neste domínio, os fatores de natureza pessoal que influenciam a forma como uma pessoa decide investir prendem-se sobretudo com a sua personalidade e a forma como a sua mente lida com a subjetividade e a incerteza. Fatores biológicos (como o temperamento), psicológicos (como o estilo cognitivo) e culturais (como a educação) fazem com que cada investidor obedeça um padrão de comportamento muito particular nas suas escolhas e tomadas de decisão.”


3. Uma pessoa pode ter características de diferentes perfis de investidores?

R: “Sim, pode ter. É muito arriscado tentarmos dividirmos as pessoas em tipologias específicas, como faz a psicologia tradicional.
Com certeza às vezes, isso ajuda a compreendermos melhor os seus padrões de comportamento, mas na realidade, cada pessoa é o resultado de uma grande diversidade de elementos biológicos, psicológicos e culturais que fazem com que sejamos todos diferentes.
Nas decisões de investimento, podemos encontrar padrões de comportamento diversos e isso deve-se sobretudo à forma como cada um reage a tudo quanto esteja em jogo.”

4. Os investidores muito experientes também não estão imunes à influencia do emocional?

R: “A reação de cada pessoa às investidas das emoções varia muito conforme a sua natureza e o momento. Os investidores experientes adquiriram, obviamente, uma aprendizagem sólida sobre as melhores escolhas, os melhores momentos, os riscos em jogo e os erros. Lidam melhor com a ambiguidade e a indeterminação graças ao fato dos seus cérebros terem aprendido a conviver com diferentes situações e diferentes "apostas". Neles desenvolve-se uma espécie de conhecimento oculto (não consciente) que alimenta abundantemente a sua memória de trabalho e lhes confere flashes intuitivos decisivos nas escolhas de alto risco. Geralmente estão menos expostos às reações emocionais adversas mas não estão totalmente imunes a momentos de perturbação que podem prejudicar a leitura e a interpretação das situações e a tomada de decisões”.A

5. De que forma a Neuroeconomia pode ajudar as pessoas na gestão dos seus investimentos?

R: A Neuroeconomia é um campo de investigação novo mas que se apresenta muito promissor no que se refere ao estudo do comportamento das pessoas em tomadas de decisão que envolvam investimento, compra, venda, troca e outras atividades de natureza econômica e financeira. A neuroeconomia recusa aceitar que as decisões no mundo dos negócios sejam pautadas apenas pelo pensamento racional e oferece instrumentos de análise mais precisos sobre a complexa rede de fatores psicológicos (intuitivos, emocionais, etc) presentes nas decisões.


6. O que se passa no cérebro de uma pessoa quando ela tem de tomar uma decisão de investimento, como por exemplo, a compra ou venda de ações?

R: “A ação de investir - seja em que for - representa um grande desafio para o cérebro porque põe em marcha uma série muito complexa de mecanismos e não apenas a racionalidade supostamente disponível no hemisfério esquerdo. Envolve pensar olhando para o futuro. Requer um tipo de pensamento estratégico mental e mobiliza capacidades como a atenção, a memória de trabalho, a memória de futuro, o processamento da informação, a ponderação emocional, a intuição, a auto-motivação, a habilidade de se interrogar e a capacidade de iniciativa. Investir representa apostar num conjunto de escolhas secundárias feitas em série até à decisão definitiva. É um processo inteligente e criativo.”

7. Existem momentos em que se deve evitar a tomada de decisões de investimento? (ex: alturas em que as pessoas estão muito stressadas ou deprimidas).

“Sim. As decisões de investimento estão entre as mais delicadas que se podem tomar. É um exercício de inteligência pura (não exclusivamente racional) que é feito sobre um conjunto mais ou menos amplo de opções, incluindo a de não investir. É, por isso mesmo, um exercício que requer um estado de espírito sereno.
O stress, o cansaço, os problemas de saúde, os estados sentimentais adversos (como o desânimo, a melancolia, a raiva, o ódio e o desprezo bem como a euforia e o excesso de auto-confiança) prejudicam o discernimento, a análise e o pensamento pelo que, se o investidor está num mau momento de forma, é de boa prudência não arriscar mesmo que esteja (erradamente) convencido que um determinado investimento possa parecer-lhe o melhor remédio para os males que o afetam.”
Artigos relacionados: Frases do mercado

Nenhum comentário: